Sacerdote católico, foi ordenado em 12 de julho de 1908 e no dia 4 de fevereiro de 1912 tomou posse na paróquia de São José do Rio Preto, trazendo consigo o sacerdote coadjutor Arthur Silveira. Ele impulsionou as obras da igreja da Matriz (futura catedral se São José), lançando a pedra fundamental numa festa religiosa no dia 28 de maio de 1912, três meses depois da sua chegada, porém não conseguiu concluí-las, deixando-as no ponto de colocar o telhado. No dia 4 de janeiro de 1914 deixou São José do Rio Preto, transferindo-se para Santos; esteve em Jaú entre 21 de maio de 1914 e 1 de fevereiro de 1915, quando tomou posse da matriz de Taquaritinga, com a missão de construir o novo templo.
Local de nascimento: Piracicaba – SP
Data de nascimento: 18/05/1880
Local de falecimento: Piracicaba – SP
Data de falecimento: ??/??/??
Voltaste (Joaquim Antonio do Canto – 1958)
1. VOLTASTE… (quando da chegada, da minha máquina de escrever que ficara em S.Paulo)
Vieste afinal! Poucos minutos faz… Que alegria, meu Deus!.. Surpreso e feliz, eu te vi passar nos braços do querido José, da singeleza melancólica do meu dormitório, de há muito, em sala de estudos improvisada. E novamente te descansaste, bela máquina, sobre a cômoda, móvel à guisa de mesa, uma vez que a difícil consecução do conforto e filhos queridos jamais me ensejou a comodidade do modesto escritório. E essa incessante luta ordenou-se, imperativamente, a função cumulativa de cômoda-e-de-mesa, a mesa e desatraente mesa em que repousavas há dois anos já. Voltaste, afinal, minha eficiente, querida e saudosa máquina de escrever! Com que loucura te vejo à minha frente, ajudando-me a reunir frases inexpressivas, na dorida impossibilidade de juntar preciosas pérolas?! Vieste! Nem acredito! Chegaste, meu amor, para o justificado júbilo do meu peito e para adorno da nossa casa – mercê de Deus – porque qual os humanos parece teres coração e alma, um dos mais legítimos e sinceros motivos da minha alegria de viver! Depois… depois… ai!
Terrível 17 de Setembro de 56! Temporal violento, repentino e impiedoso alterou-me, malaventurosamente o cenário calmo da existência forçando-me como à ave ferida, a abandonar a terra do nascimento e a afastar-me às carícias do ninho antigo para voar… voar… alucinadamente, para longe, bem longe, muito longe, em busca de ramo desconhecido em que pousar… É que algures – força incontestável de determinações divinas – árvore nova, plena de futuro e cheia de esperança tombara, deixando sem o carinho da fronde protetora a cinco avesitas implumes e que mal haviam nascido para a vida…
E lá, ainda, máquina generosa, na contrastante Capital do Estado, suavisava-me as arestas da vida gravando-me diária e cronológicamente, as melopéias nostálgicas que eu – quase sempre chorando – costumava cantar! Mas tudo, felizmente, já se foi… Tudo já se passou, como tudo se passa, de fato, nesta vida! A tempestade não tem moradia fixa: é nômade e já se afastou, como se afastam, para lugares distantes, todas as tempestades! A calma veio, o sossego chegou… e de tudo se esqueceu, como de tudo se esquece, realmente, neste mundo! Não tardou em a alegria voltar, sorridente, a nosso lar… Tudo se venceu, afinal, como tudo se vence na existência!
2. Venceu-se com o eficaz auxílio da coragem; com o amparo irresistível do otimismo; com o escudo prodigioso da Fé e, sobretudo, com a ajuda indispensável de um Deus! A paciência encurtou-me os dias amargos de exilado; a conformação diminuiu-me a extensão amedrontante dos meses; a resignação abreviou-me a eterna e melancólica passagem dos anos e, destarte, venci até o dia ansiado e festivo da volta e aqui estou, minha adorada!
Voltei! Voltei ao calor docemente vivificante do ninho amorável, saudoso e evocativo doutros tempos! Cá estou, minha querida, na terra idolatrada em que minha santa Mãe – mulher que se fez Anjo e Anjo que se fez Amor – balouçava-me, pacientemente, o berço, acariciava-me com beijos e cumulava-me de bênçãos, bênçãos donde brotou esta fonte inesgotável de felicidades de que desfrutei e de que desfruto ainda!
Vieste, também, minha máquina! Acabas de chegar, ó linda confidente dos meus sonhos de outro! E entraste quietinha, muda e silenciosa como é do teu feitio e natureza. Chegada que, para mim, assume proporções agigantadas de triunfo raro, autêntico e emocional… Voltamos ambos, meu amor! Aqui estamos, um frente ao outro, qual enlevado e ditoso par de namorados: mãos nas mãos, olhos nos olhos, numa cordial reciprocidade de amizade e em colaboração amorosamente promissora. E que de conforto me trouxeste ao coração que jamais te ocultou recônditos segredos de uns raros dias escuros que me vieram quebrar a monotonia desta minha vida tão clara, tão suave, tão bonita, tão feliz e tão cheia de sol!.. Transbordas-me de contentamento, ó máquina, como ao coração que, após grande abandono, um dia se alegra, se renasce e se rejuvenesce ao regresso muito desejado de um auspicioso, novo, forte e intenso amor!
Voltaste, minha amiga, compreensiva, paciente, saudosa e delicada! Já há tanto que te espero e só hoje é que chegaste!
Vieste, minha querida, com bastante oportunidade para trazer-me alegrias e luzes nesta tarde excepcionalmente sombria do meio do mês e do meio do ano, em que meu coração – mais que sempre – carece de consolo e que minh’alma – mais que nunca – anseia por claridades e precisa de sóis!… Meu amor! Grande amor! Imenso amor! Joaquim Antonio do Canto Piracicaba, 15/6/1958.
Fonte: www.quemfazhistoria.com.br; https://pt.slideshare.net/gncanto/voltaste